quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Ipea: jovem negro corre 3,7 vezes mais risco de assassinato do que branco

A cor negra ou parda faz aumentar em cerca de 8 pontos percentuais a probabilidade de um indivíduo ser vítima de homicídio, indicam os dados apresentados pelo diretor do Diest


Agência Brasil

Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre racismo no Brasil, divulgado nesta quinta-feira (17), revela que a possibilidade de um adolescente negro ser vítima de homicídio é 3,7 vezes maior do que a de um branco. Segundo o estudo, existe racismo institucional no país, expresso principalmente nas ações da polícia, mas que reflete “o desvio comportamental presente em diversos outros grupos, inclusive aqueles de origem dos seus membros”.

Intitulado Segurança Pública e Racismo Institucional, o estudo faz parte do Boletim de Análise Político-Institucional do Ipea e foi elaborado por pesquisadores da Diretoria de Estudos e Políticas do Estado das Instituições e da Democracia (Diest). “Ser negro corresponde a [fazer parte de] uma população de risco: a cada três assassinatos, dois são de negros”, afirmam os pesquisadores Almir Oliveira Júnior e Verônica Couto de Araújo Lima, autores do estudo.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

O Rango Legal

Eu e Jão fizemos uma rango legal
Bem gostoso, saudável e natural
Deu até pra levantar o astral
Desse jeito não iremos passar mal
Nem teremos que ir pro hospital
Em vez disso vamos é pro litoral
Curtir uma veibe de boa. Na moral! 

A barca do inferno



Por Elisabeth Zorguetz

Hoje em dia, quando entro num ônibus na minha cidade, sinto algo muito aterrador. Uma impressão quase inexplicável, um misto de sufocamento, frustração e melancolia. As janelas semi-abertas me aprisionam, o cheiro de suor metálico me asfixia. O rosto apático das pessoas, imersas nos próprios pensamentos exaustos do cotidiano, a projetar-se sobre o trabalho que ainda lhes aguarda em casa. Elas sentam-se próximas a mim e na verdade se encontram tão distantes, sonolentas, ébrias de fadiga e desesperança. Balançam como trapos de pano aos sacolejos do veículo. O som do motor e das portas batendo me atormenta. Mas nenhum ruído é pior do que o estalo que a catraca faz na minha passagem. Me lembra o primeiro pingo de água gelada na nuca dos banhos de inverno. Minha apreensão a esse ruído é tão intensa que certamente me matará um dia. Me sinto tola. Me sinto burra. Me sinto egoísta, fraca e suja. Tenho tanta convicção de que não deveria estar naquele lugar, naquele momento, que minha vontade é escapar por uma janela. Não acho digno. Não é digno. Para ninguém. Sinto a mão grosseira dos abusos e tiranias sobre a minha boca, extinguindo a minha voz. Transporte público não é a barca amaldiçoada dos pobres, mas aqui convém que seja. Convém manter o fosso social e quando possível, aprofundá-lo. Desgraçado cidadão ilheense. É enclausurá-lo num ônibus, já que na penitenciária lhe faltam alguns crimes categóricos da miséria. Por isso traço longos caminhos a pé, tropeçando nas pedras e tomando chuva. Arriscando-me na garupa de uma moto. Ao menos fujo daquela sensação de que nunca mais me libertarão daquela violência em quatro rodas. Que ficarei eternamente ignorante às suas razões e efeitos. Porém, na minha baça liberdade, me recordo daqueles meus irmãos acorrentados aos seus assentos. Volto ao ônibus. Os passageiros me encaram, por vezes, com estranhamento. Talvez seja minha aparência aflita. Ou talvez esperem algo de mim, como esperam de cada cidadão que se levanta quando chega a seu ponto, agarrado aos canos. Esperam que alguém se levante. E nunca mais sente.